quinta-feira, 15 de abril de 2010

Livro: Troca - Capítulo 3

Capítulo 3
Domingo , 10:00 Apartamento de Augusto

Não adiantava, Augusto rolava na cama de um lado para outro, mesmo sabendo que não conseguiria dormir mais. Pouco importava que tivesse chegado às 6:30 em casa e tivesse dormido nem 4 horas inteiras. As imagens, os acontecimentos e as conversas da última madrugada ficavam rodopiando em sua mente.
Ele estava reconhecendo os sinais, estavam mais que claros:
1- A simples lembrança de Miguel estava começando a fazê-lo sorrir,
2- Aquela famosa pontada no peito.
3- Junto disso acompanhavam os pensamentos: “será que dou um toquinho?” “mas ele pode achar exagerado” “e um depoimento? Será que não parece desespero?”
Augusto então se joga contra a cama, põe o travesseiro sobra a cara e aperta pensando em como parecia estar se comportando como um adolescente de treze anos. “é estou apaixonado, isso é fato”. Suspirou.
Consultou seu telefone pela décima oitava vez desde que tinha acordado. Nenhuma mensagem, nenhum toquinho, nada. “Deixa de ser idiota Augusto, é muito cedo, faz quatros horas que vocês se despediram!” pensou consigo mesmo tentando em vão se acalmar.
Levantou e foi para o computador, ouviria uma música, qualquer coisa que o distraísse. E claro, ficaria esperando Miguel entrar no MSN, e ai fingiria não vê-lo e esperaria que ele o cumprimentasse primeiro. “como sou idiota”. Suspirou lamentando.
Resolveu abrir o orkut e seu coração deu um salto triplo, lá estava um depoimento de Miguel. “adorei, e lembre-se do combinado hoje, beijão”.
Augusto sorriu, teve vontade de pular, de dançar pela sala ou qualquer coisa vergonhosa dessas. Imediatamente as lembranças voltaram, palavra por palavra, cena por cena. Foi incrível, na verdade estava sendo tudo incrível, pensou como uma pessoa simplesmente aparece na sua vida e mostra um genuíno interesse no que nela acontece.
Foi exatamente aquilo que ele necessitava, conversar com alguém que não estivesse fazendo isso como se fosse um favor, ou uma obrigação velada que amigos fazem um aos outros. Foi puro interesse, carinho e sinceridade.
A pergunta inicial realmente o havia pego de surpresa e congelado toda a sua circulação, o menino de aspecto angelical com incríveis olhos azuis realmente não era de perder tempo.
- Alô, terra para Guto. Posso te chamar assim não é?
- Hã, sim sim, pode. Todos me chamam assim. Respondeu Augusto ainda aparentando perplexidade.
- Então? Solteiro? Separado? Enrolado? Perguntou com um tom de brincadeira.
- É complicado, começou Augusto. Pensou se realmente deveria contar a história novamente, reviver os fatos mais uma vez. Pensou se alguém que havia conhecido há um dia entenderia. Pensou em como todas as vezes que havia contado ninguém na verdade chegou muito perto de entender. Não por maldade, mas porque certas coisas só fazem sentido dentro da gente mesmo. E quando você conta, se abre com outras pessoas e elas respondem com aquela cara de “você esta fazendo tempestade em copo de água”. Isso era o pior pensava ele, não quando você não tinha para quem contar seus segredos, traumas e etc, mas quando você tem pra quem contar mas não se faz entender. Resolveu continuar, afinal ao analisar friamente a situação, havia conhecido Miguel há um dia, se ele não entendesse não seria uma decepção assim tão grande.
- Eu estava num relacionamento de sete meses. Tipo namoro firme. E estava tudo incrível. Nos amávamos de verdade. Nos completávamos. Seu nome era Bruno. Era um ano mais velho que eu. Era lindo. Quer dizer, eu o achava a pessoa mais lida do mundo, óbvio.
- Hum, imaginei que fosse algo do gênero. Vocês terminaram?
- Não, ele morreu.
- Nossa, desculpa. Desculpa mesmo. Não sei nem o que falar. Respondeu Miguel sem jeito, demonstrando um genuíno incomodo e aflição por ter iniciado a conversa.
- De boa, hoje eu falo tranquilamente desse assunto. Ainda fico meio abalado é claro. Mas tem que passar uma hora ou outra não é?
- Sim, mas mesmo assim me desculpe.
- Então. Éramos pra ter passado o fim de ano juntos. Fomos para nossas casas passar o natal. Ele morava em uma cidade próxima a minha em Santa Catarina. Liguei para ele alguns dias e ele não atendia. Imaginei que pudesse estar ocupado e essas coisas. Mas depois fiquei realmente preocupado. Não havia sinal no MNS, orkut nada. Procurei o nome de seus pais na lista e tive que ligar. Aí fiquei sabendo que ele havia sofrido um acidente a caminho de casa.
- Nossa, que horrível. Falou Miguel, tentando preencher o vazio nas conversas.
- Sim, e sabe o pior? Meus pais sabem de mim e tudo mais. Mas os pais dele não. Aí eles nem poderiam imaginar que ele estivesse namorando alguém. Quando liguei ele já havia sido velado e enterrado. Não tive uma chance de me despedir de verdade. Mesmo assim comprei uma passagem para a cidade dele, dei um jeito de descobrir onde ele havia sido enterrado e fui visitá-lo. Foi a tarde mais horrível da minha vida. Não fazia nada além de chorar em frente ao túmulo onde ele estava. Até que chegou uma mulher ao meu lado. De imediato reconheci que se tratava da mãe dele. Eles eram a cara um do outro. Ela parou, me olhou e me abraçou dizendo. “obrigado, você o fez muito feliz”. É como dizem, as mães sempre sabem.
Miguel estava estático. Não saberia o que dizer. Mesmo assim sentiu que deveria falar algo.
- Meu, que triste. Não sei o que falar.
Percebeu que estava se tornando repetitivo, mas realmente não sabia o que expressar nessa hora.
Augusto o interrompeu com um movimento de mão. Respirou fundo e conteve o choro. Tinha prometido não chorar mais por isso novamente, em respeito a toda história que haviam vivido.
- Tudo bem Miguel, não precisa falar nada. Certas coisas não tem mesmo o que falar. Talvez seja até melhor. Enfim, voltei pra casa e passei a última semana do ano triste. Meus pais pediram se havia acontecido algo e eu respondi que havia terminado um relacionamento. Porque sei lá, por mais que saibam e aceitem, eu sei que certas coisas eles não estão preparados. Então resolvi poupá-los de um constrangimento. Passei os últimos dias do ano e os primeiros desse ano disfarçando a dor e segurando as pontas.
Augusto fez mais uma pausa. Enxugou os primeiros vestígios de lágrimas em seus olhos. Percebeu de relance que Miguel também estava segurando as lágrimas. Achou querido da parte dele. Continuou falando:
- Iria passar duas semanas com o Bruno na praia. Acabei voltando a São Paulo. Fiquei uma semana sozinho no apartamento até que o Luis voltou. Chorei e vivi a pior fossa possível nessa semana. Quando Luis chegou ficou surpreso de eu estar ali. E quando soube, ficou consternado. Ele e a Ana foram meus pilares nessas semanas antes do início das aulas. E nesse fim de semana finalmente me convenceram a sair. E bem você viu no que deu né?
Miguel respondeu de imediato.
-Você me conheceu. No mínimo uma nova amizade você fez.
Augusto encarou aqueles olhos azuis e sorriu.
- Bem, chega de falar de mim. E você? Me conte sua história. Augusto terminou com um sorriso tímido.
- Ok, então, meus pais não sabem. Na verdade só fiquei com um menino até hoje. Não foi algo que eu soubesse ou aceitasse assim muito fácil. Sempre pensei que fosse só uma fase sabe? Tive namoradas e tudo mais. Mas um dia foi inevitável. Fiquei com um amigo meu, e realmente notei que não adiantava me enganar mais. Coincidiu com o fato de passar pra USP. Terminei com minha namorada, usei a mudança de cidade como desculpa. Sei que soa horrível, mas era a única coisa que tinha coragem de alegar na hora.
Miguel parou um pouco, percebeu que Augusto não iria interrompe-lo. Claro sinal de que ele deveria continuar a conversa.
-Aí passei o começo do ano aprontando as coisas para mudança. Fiquei mais algumas vezes com meu amigo. Mas não foi algo assim para relacionamento entende? Foi mais dois amigos se descobrindo. Vim pra cá faz uma semana. Tive a primeira semana de aula, fiz alguns amigos, na verdade colegas. Amizade fiz uma só, com uma menina bem querida, Claudia o nome dela. Se você conhecê-la vai gostar. Inclusive abri o jogo com ela e tudo. Ela disse que não acredita porque não levo jeito e tal.
Terminou a frase rindo e com uma expressão do tipo “qual é o jeito de alguém gay?”
Augusto riu e saiu de seu silêncio.
- Sei como é, no começo também muita gente dizia não acreditar. Quem não entende pensa que somos todos iguais aos personagem gays de novelas por aí.
-Isso! Concordou Augusto.
- Mas então, nessa semana que esta aqui, conheceu alguém interessante?
Miguel parou, novamente com aquele jeito que parecia premeditado.
- Conheci uma pessoa sim. Bem bonita por sinal. Um pouco mais alto que eu, cabelo moreno, olhos escuros e adora se escorar numa parede.
Falou soltando uma risada. Augusto sabia que sua face havia pego fogo ou algo semelhante. Disfarçou indo fazer mais um copo de cuba, derrubando metade de um deles no chão.
- Não liga ta? Sou desastrado.
Nesse momento a porta acima da escada abre e o rosto de Luis surge na abertura.
- Ops. Desculpa. Fechou dando uma risada escandalosamente alta, falado com alguém ao seu lado. – Temos que procurar outro lugar.
Augusto pensou “ótimo, tudo que precisava, que Luis visse a cena e amanha venha pedindo cada detalhe”
- Seu amigo é louco.
Augusto deu uma risada, no meio do processo solta um leve bocejo.
- Sim, nossa desculpa. Bateu um sono leve aqui.
Miguel também bocejou. Augusto não perdeu a oportunidade.
- Pelo visto você também né?
- Não, não. É aquele negócio de reflexo sabe? Você vê alguém bocejando e boceja.
- Ah tá, se eu te der um soco então?
- Não sei, e se eu te der um beijo?
Augusto congelou, tinha ficado totalmente sem resposta. Miguel levantou se aproximou. Encarou seus olhos azuis nos olhos escuros de Augusto. Aproximando lentamente seus lábios e o beijou.
Augusto sentiu aquele beijo, era uma mistura de nervosismo e força. Mas ao mesmo tempo era tenro. Miguel passou o mão pela face de Augusto enquanto o beijava. A outra mão estava repousada na coxa esquerda de Augusto, que despertou do susto e resolveu entrar na onda. Ajeitou-se, abraçou Miguel forte, e passou suas mão pelo peitoral definido do menino que o beijava fortemente e tenramente ao mesmo tempo.
Os dois levantaram beijando-se. Augusto virou Miguel contra parede e começa a beijar mais fortemente. Miguel suspira. Soltam-se os lábios e se encaram. Augusto não sabia dizer se a encarada havia durado um segundo, ou um dia inteiro. Mas naquele olhar estava claro tudo que deveria saber. Voltaram-se novamente aos beijos. Miguel já estava com as mãos por dentro da camisa de Augusto, que sentiu que estava tendo uma ereção. Tentou disfarçar secretamente porém Miguel o interrompe e fala. – Deixa! Miguel o pressiona contra seu corpo num abraço forte. Augusto sente que Miguel também estava excitado. Pôs as mãos por dentro da camisa dele e passou sua língua pela ponta da orelha, terminando novamente em um beijo.
Miguel o interrompe
- Então, eu nunca fiz nada demais, como eu disse só fiquei com um menino.
- Calmaaaaaa, você não acha que vou transar no porão da casa da Ana não é? Respondeu Augusto rindo, percebendo que em Miguel existia alguém inseguro por trás de toda aquela fachada de ironia.
- Ah ta, não sei né. Porque esta muito bom, Como você está percebendo.
- Sim realmente estou “sentido”. Respondeu Augusto fazendo aspas com as mãos.
Os dois caem na risada. Barulhos mais fortes são ouvidos na cozinha. Como se algo tivesse caído no chão. Augusto e Miguel resolvem subir as escadas nem percebendo que estavam de mãos dadas. Ao retornar da cozinha dão de cara com Luis e outro menino também aos beijos.
- Oi, esse é o André. André esse é Guto meu companheiro de ap e Miguel, seu hummm, amigo. Terminou a frase com uma risadinha.
Augusto pensou em responder com algo do tipo “ você não iria encontrar o Thiago?” mas deixou barato. Circulou com Miguel pela festa. Muitos olhavam para os dois, realmente formavam um belo par juntos.
-Nossa, são 5:30, quantos tempo ficamos naquele porão?
- Tempo suficiente. Responde Miguel com um sorriso.
- Você é sempre assim principezinho perfeito? Cuidado que eu me apaixono viu?
- Bobo, então amanhã a Claudia vai lá em casa, temos que preparar uma apresentação pra segunda. Mas assim, porque você não vai lá mais a noite, podemos jantar que tal?
Augusto responde de imediato de maneira sarcástica.
- Claro, nossa já ganharei um jantar?
- Não se anime, aprendi a usar um fogão essa semana. Mais seguro dizer que pediremos uma pizza.
- Mas não vou incomodar você e a sua amiga?
- A noite ela terá ido embora, aí ficamos só nos dois. Miguel faz uma cara intencional de cafajeste no fim da frase. Augusto ri.
- Ai, ai, ai. Esse povo safadinho de fora né?
- Então ta, podemos rachar um táxi e eu te mostro onde moro.
Eles se despedem de Ana, que ao vê-los de mãos dadas faz uma cara de quem acaba de ver um bebezinho no parque de diversões. Pegam o táxi, Augusto percebe que já está amanhecendo.
-Então é aqui, apartamento 32. Te espero as 20:00. Tudo bem?
- Tudo sim, até depois.
Augusto, chega em casa. “ok 6:00 da manhã, vou dormir e espero acordar bem tarde pra não ficar contando o tempo até as 20:00”. Nesse momento Luis abre a porta do ap.
- Ok, conte-me tudo!
- Ai Luis, amanha pode ser? To podre.
- Amanha você não me escapa Guto.
Augusto fecha a porta do seu quarto. Tira a roupa que estava usando e joga na cama, com uma felicidade que há algum tempo ele tinha julgado ter perdido a capacidade de sentir.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Livro: TROCA Capítulo 2

Capítulo 2

Sábado, 15 horas.

O celular tocava insistentemente, e mesmo Augusto tendo colocado no silencioso a vibração do aparelho o acordou. Olhou a chamada no celular, era sua mãe, depois ligaria pra ela.
Tinha ficado claro para Augusto no meio do caminho da boate até o apartamento que tanto ele quanto Luis não iriam no primeiro sábado de aula. Augusto por se passado na bebida e prever que acordaria com a sensação de estarem martelando sua cabeça, como realmente aconteceu, e Luis porque nunca acordaria no horário se Augusto não tivesse que praticamente derrubar a porta de seu quarto todas as manhãs, isso em dias normais, quem dera após uma balada.
Não que tivesse do que reclamar de seu companheiro de apartamento, era a pessoa mais que perfeita para isso, Luis era o tipo de pessoa que parece estar sempre indo a algum lugar, inquieto, elétrico mas nunca um incômodo e Augusto tinha a sensação que se tudo começasse a desmoronar Luis ainda assim faria uma piada a respeito e agiria como se fosse à coisa mais normal do mundo.
Haviam se conhecido pouco antes do inicio de suas aulas, um ano e meio atrás, Luis já morava em um pensionato em São Paulo quando fazia cursinho pré-vestibular, mas quando passou para a faculdade de Moda na USP conseguiu que seu pai deixasse dividir apartamento com alguém, mais próximo da universidade. A condição era não faltar às aulas, coisa que era religiosamente desrespeitada a cada 4 dias no mínimo.
Augusto sentou-se na sua cama. Sentiu o já famoso gosto de guarda-chuva em sua boca quando notou Luis falando ao celular no quarto ao lado.
- Mas pai, é o primeiro dia, nem é tão importante. Prometo que durante o semestre não falto mais.
Uma leve pausa, onde o pai de Luis deveria estar recriminando as atitudes do filho e lhe passando um sermão, segunda vez essa semana, e era só a primeira semana de aula pensava Augusto.
- Ta bom pai, pode deixar, sim tomarei jeito. Tchau.
Augusto riu consigo mesmo, esperou somente três segundos até que Luis entrasse em seu quarto, com uma cara de quem tivesse acabado de sair de uma massagem relaxante, esquecendo-se do sermão levado segundos atrás.
- Esta acordado então já? A bela adormecida da boate. E riu, alto demais para os ouvidos latejantes de Augusto.
-Então, a Ana já me ligou, hoje vai rolar aquela festa da turma que te falei, você ta convidado e quem sabe pode levar o deus grego ne? Então? Vamos? Vai levar o carinha? Como é mesmo o nome dele? Achei tão fofo, tão lindo, diz que você vai falar com ele, por favor, né?
Augusto levantou a palma da mão em direção ao rosto de Luis.
- Calma pelo amor de Deus, nem acordei direito e você ta nesse interrogatório. E pra sua informação, mal conheço o carinha lá, então acharia esquisito convida-lo assim, além do mais não to querendo isso nesse momento você sabe.
- Ai Gutooo, conhecia já esse velho método de Luis chama-lo pelo apelido, vinha sempre seguido de uma lição de moral. – ta na hora de ir pra frente não acha? O que custa convidar o menino? Você mesmo disse que ele é novo na cidade, não quer deixar ele em casa mofando, coitado. E qualquer coisa se você não se interessar eu achei ele bem bonitinho.
Mais risadas, Augusto fez cara de quem não se importa, e no fundo pensava que nem deveria mesmo, tinha acabado de conhecer a pessoa, porém era inegável que havia balançado um pouquinho as suas estruturas internas.
- Ta, deixa eu tomar um banho e ressuscitar, depois adiciono ele no MSN e ai vejo se ele ta afim, isso se o MSN que ele passou for real, porque né, hoje em dia não duvido de nada.
- Ai Gutooooo, já ia começando Luis, mas Augusto fechou a porta do banheiro bem em tempo de interromper outra das famosas lições de moral de seu amigo sobre o negativismo e etc.
Após o banho, que se revelou um sagrado remédio para sua cabeça latejante, sentou-se em frente ao computador entrando no orkut. Para sua surpresa havia um convite de seu anjo salvador. “me add belo adormecido?”. Augusto soltou uma risada, aceitou o convite e fez aquilo que era o mais natural, vasculhou todas as fotos do rapaz.
Após uns 15 minutos verificando o orkut de Miguel, chegou à conclusão que o mesmo não era do tipo que descreve cada segundo de sua vida em redes sociais, quem visitasse seu perfil não tiraria nenhuma grande conclusão a respeito, somente informações genéricas e fotos aleatórias.
Em seguida entrou no MSN e novamente notou que Miguel já havia se adiantado e o adicionado também. Ficou on-line, sempre entrava invisível para poder ver quem estava antes e bloquear quem por ventura não quisesse conversar. Dois minutos depois a janelinha laranja escrita "Miguel" pisca no canto inferior direito de sua tela, Augusto abre a janela e repara na foto, novamente uma foto comum, porém o azul dos olhos de Miguel era algo realmente hipnótico. Voltou sua atenção para o que estava escrito.
Miguel diz: Oiiiii, tudo bem? Melhorou?
Guto diz: oi, tudo bem sim, to melhor, mas tb não estava tão ruim assim!!
Miguel diz: seiii neh, tenho fotos no meu cel q te provariam o contrário!!
Guto diz: oq?? vc tirou fotos? como assim??
Miguel diz: kkkkk, bobinho, to zoando. Então como foi a aula?
Guto diz: não fui, sem condições

Augusto percebeu que tinha acabado de se contradizer ao afirmar que realmente estava em estado lastimável na última noite, esperava que Miguel não notasse o deslize, mas a astúcia de Miguel não perdoou.
Miguel diz: isso q não tava tãããããõ ruim né? :P ahuhuahuahuahua
Guto diz: Ta, vai tirar com a minha cara sempre agora é?
Miguel diz: calmaaaaaa, não precisa ficar bravinho tb.
Guto diz: não fiquei bravo, ehhehe to zoando tb. :)
Miguel diz: ahhhh, isso aí ehehhe. Então e hj, alguma festa por ai?

Augusto pensou bem, não sabia como seria interpretado se falasse da festa, não estava querendo dar tanto a entender que estava afim do menino, mas resolveu falar sobre a festa de logo mais a noite como se não fosse nada demais.
Guto diz: então vai ter uma festa do pessoal da sala do Luis, meu amigo, lembra dele?
Miguel diz: sim, o ruivinho né? Me pareceu gente fina.
Guto diz: sim, muito é meu amigão, mas não sei se eu vou, não to muito em clima de festas e talz.
Miguel diz: pelos acontecimentos que vc ficou de me falar ontem?

Augusto realmente se surpreendia com a audácia do sujeito que tinha conhecido nem há 24 horas.
Guto diz: não lembro de ter me comprometido a falar isso com vc :P ehehhe, mas um pouco é disso tb.
Seguiram-se uns dois minutos sem qualquer resposta de Miguel, Augusto pensou que talvez tivesse sido ríspido demais na sua resposta. E quando estava pronto mandar outra mensagem a janela pisca novamente.
Miguel diz: desculpa, meu pai ligou, ai já sabe ehhehe. Então eu sei que não se comprometeu a conversar sobre isso seu estressadinho :P mas se quiser tamos ai. Sou curioso mesmo eehhehe
Guto: quem sabe um dia né, não conheço vc direito, vai saber oq faria com tais informações ahuuahuhahua
Miguel diz: ahuauha. Ok.
Guto diz: então, a ana, que esta organizando a festa disse que poderia levar alguém, vc não ta afim de ir? A não ser q tenha algo melhor pra fazer neh?

Augusto sentiu que a tentativa de disfarçar o interesse soava ainda mais como se ele estivesse interessado.
Miguel diz: deixa ver, hj eu teria....hummm. nada pra fazer ehhehe, poderia ir sim se não for incomodo.
Guto diz: não acho q incomodaria, afinal pode levar outras pessoas, só tem q levar bebida, eu vou levar mas hj nem quero chegar perto ehehehhe.
Miguel diz: isso, pq não quero servir de babá mais uma vez :P
Guto diz: aff, não pedi pra ficar lá.
Miguel diz: eu sei, fiquei pq quis, achei vc bonitinho la escorado na parede ahuahuahuhuahuahuahua

Augusto agradeceu aos céus que estivesse sozinho em casa, assim ninguém veria que tinha ficado totalmente embaraçado.
Guto diz: então, nós aqui vamos perto das 22h, chega por esse horário, ai não precisa entrar sozinho.
Miguel diz: uhum, ok me passa o endereço depois, manda por depo hihihi.
Guto diz: ok, passo sim e já passo meu celular tb, qq coisa me manda uma mensagem sei la. Agora tenho q sair, vou lavar roupa, sabe né vida de quem mora sozinho ehhehe
Miguel diz: sim, tb tenho q sair. Até mais, se cuida, bejinho.
Augusto pego de surpresa com esse beijinho inesperado, mas porém não hesita.
Guto diz: bejinho vc tb ehehhe


Alguns minutos depois que saiu do MSN, Luis volta ao apartamento, mais empolgado do que antes.
-Então, vai ser o maior bafo essa festa. O Thiago vai, lembra dele?
- Não, Thiago é o sujeito que fez isso no seu pescoço?
Então Luis parou subitamente, com cara de espanto.
- Ai meu deus, esqueci completamente disso, tenho que disfarçar isso com alguma coisa, senão a casa cai.
Augusto ria sozinho, esse era o bom e velho Luis de sempre.

Sábado, 21:45 Frente da casa da Ana

O telefone de Augusto vibra, uma mensagem de Miguel: “to chegando, não entre sem mim ehhehe”
Augusto volta à realidade e percebe que Ana está esperando uma resposta.
- Então Guto, quem é o menino?
- Ah, então conheci ele ontem, é novo por aqui ai convidei pra vir junto.
- É o salvador do Guto, completa Luis de um jeito debochado soltando sua risada.
Augusto fuzila Luis com os olhos. Ana entra na brincadeira.
- Salvador é? Ai que romântico, quero saber tudo.
- o Luis é um exagerado.
Passam-se alguns minutos de conversas aleatórias, Luis comentando desdenhosamente o modo como as pessoas se vestiam, até que se escuta uma voz.
- Oi.
Era Miguel, com aquela voz que ficava entre a ternura e a autoridade.
Augusto vira automaticamente para trás, e dá de cara com aqueles olhos azuis e rosto sorridente. Não consegue disfarçar um sorrisinho.
- Oi, então achou fácil?
- Sim, não é muito longe de onde eu moro na verdade.
Depois das devidas apresentações de Miguel a Ana a amiga puxa Luis para dentro da casa.
- Então Luis, me ajuda com um negocinho aqui?
Ana vira e faz uma cara de aprovação em direção a Augusto, que naquele momento desejava se atirar da ponte mais próxima.
Lá dentro da casa a música já rolava, os dois entraram e ficaram num canto, próximos um do outro.
-Então, o que fazemos agora? Pergunta Miguel com um tom zombeteiro.
Augusto realmente sentia que a aura do menino ao seu lado era algo que o fazia muito bem. Mesmo assim resolveu sair com uma resposta evasiva.
- Não sei, podemos circular pela festa, te apresento para pessoas por ai e depois a gente vê, provavelmente vou cedo embora mesmo, to um lixo hoje.
Os dois circulam pela casa de Ana, que estava com um clima de festa universitária americana. Precavida como Augusto sabia que Ana era, os móveis e tudo que poderia ser quebrado haviam sido retirados do local, a sala que era grande normalmente estava parecendo ainda maior sem móveis, nela estavam umas 50 pessoas que dançavam, bebiam, beijavam alegremente aproveitando que os pais de Ana estavam viajando.
Varias apresentações de Miguel para amigos e conhecidos de Augusto, e claro, muitas cantadas e indiretas, pois sendo lindo como era e novo na cidade o pessoal não perdoava. Augusto sentiu que isso o causava certo incômodo, mesmo que relutasse em aceitar tal fato. Era cedo demais pensou ele.
- To indo na cozinha, procurar um refri, quer ir junto? Pediu Augusto, torcendo pra que ele aceitasse, queria tirar Miguel do meio dos abutres esfomeados.
- Vamos lá. Respondeu com aquele jeito moleque encantador.
Ao fechar a porta da cozinha, começou a revirar o cômodo em busca de algo não alcoólico, notou que Miguel fuçava pelos cantos.
- Você é curioso mesmo hein? Brincou Augusto.
- Sim, ei, essa escada vai pra onde você sabe?
- Então, conheço essa casa como a palma da mão, venho aqui direto, ela desce a um porão que funciona como despensa, entende?
Miguel fez uma cara de curiosidade.
- É legal lá embaixo?
- É um porão normal oras.
Respondeu Augusto secamente, sendo que três segundos depois passou a entender os reais motivos de uma pergunta dessas. Aproveitou a deixa.
- Quer conhecer? Não tem medo de fantasmas né?
- Deixando a luz acesa não. Respondeu Miguel mostrando um sorriso debochado.
Os dois desceram os 22 degraus e chegaram a um porão mal iluminado, porém espaçoso, sentaram-se no chão, Augusto havia pegado uma garrafa de Sprite e dois copos plásticos e puxou conversa.
- Então, este é o porão. Nada muito maravilhoso não é?
- Na real eu gostei, assim podemos conversar mais sossegos.
- E qual será o tópico da conversa?
Miguel parou, ficou pensando, Augusto se indagava se isso tudo não era proposital, como se ele tivesse caído diretamente numa teia de aranha.
- Vamos falar de relacionamentos!
Augusto sentiu que seria uma noite longa, mas resolveu encarar a situação.
- Ok, nesse caso vou buscar uma vodka.
Subiu e voltou correndo com meio litro de qualquer bebida barata, fez dois cubas entregou um na mão de Miguel que engatou uma pergunta.
- Relacionamentos então, me diga você ta solteiro?

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Livro : TROCA - Capítulo 1

Lentamente as imagens iam voltando ao foco de seus olhos negros, já podia ver quase que perfeitamente a cor da parede que se encontrava escorado, era de um tom verde berrante, o que o fez pensar se não seria melhor continuar com sua visão desfocada.
Junto com sua visão suas orelhas começaram a assimilar os sons e barulhos ao qual ele estava inserido, a musica que antes parecia estar a quiilômetros de distância foi aumentando lentamente em seus ouvidos, percebeu que se tratava de mais umas dessas músicas super estouradas que os DJs insistem em tocar quatro vezes por noite. Sentiu-se patético, não pela música e nem por ter aceitado sair mais uma vez quando ele sabia que ainda era o momento de ficar na sua.
Sentiu-se patético por estar naquela situação, escorado em uma parede absurdamente verde, desorientado, com gosto amargo na boca, não havia vomitado pelo menos, teria sido demais para uma noite só. Mas ainda não havia percebido que se sentiria ainda mais idiota dois minutos depois.
O consumo de álcool excessivo além de muitos outros efeitos não faz perceber que você possa estar acompanhado, e até aquele momento ele estava contente que ninguém havia presenciado essa cena degradante, ledo engano.
- Estava ficando preocupado já, você não acordava.
Ouviu alguém falando, no começo esperou que fosse sua mente pregando peças, ficou ali petrificado com a espinha congelada encarando a parede que ficava cada vez mais absurdamente verde. Alguns segundos depois se deu conta que havia realmente alguém do seu lado. Pensou de quantas maneiras o mundo poderia ser mais injusto que isso, porém desistiu de enumerar e seguir esse raciocínio,levantou-se, tentou ficar em uma posição mais respeitável, tropeçou duas vezes nessa tentativa, causando risadinhas abafadas no estranho que teimava em ficar ao seu lado nessa situação absurda.
- Pelo menos você não ronca sabia?
Após essa observação claramente irônica, o ser ao seu lado na parede verde soltou uma risada, e dessa vez não se conteve, riu abertamente. Era uma risada sincera, gostosa e envolvente.
- Meu nome é Miguel e o seu? Consegue se lembrar?
Conseguia sim, porém ultimamente não andava muito aberto a encontro com estranhos e a puxar conversas quando não era absolutamente necessário, iria agradecer o sujeito, pedir o quanto lhe devia em dinheiro, pagá-lo, procurar seus amigos, na verdade seu único amigo que havia dado carona e ir embora.
- Meu nome é Augusto.
Respondeu secamente ainda sem encarar o ilustre desconhecido, desejava mais que tudo se olhar em algum espelho antes de encarar seu bom samaritano.
– Olha, não sei quanto tempo estou aqui e o pior, não sei quanto tempo você está aqui do meu lado presenciando essa situação decadente, se tiver um jeito de agradece-lo me avise, mas acho que já tenho que ir embora, meus amigos devem estar esperando.
- Seus amigos notaram que você estava aqui?
Foi uma resposta dura, embora sem intenção de ser, na verdade era mais duro estar ouvindo isso de um completo desconhecido.
- Bem, isso é algo que resolvo com ele quando encontra-lo.
Se bem que seu vasto conhecimento acerca de seu amigo o fazia concluir que ele deveria ter encontrado ocupação melhor do que observa-lo escorado em uma parede.
O estranho de nome Miguel ajeitou as pernas e falou: - Por que você não senta novamente? Fazem cinco minutos que você acordou, espera mais um pouco pra ter certeza que está tudo bem mesmo.
Augusto não sabia se era algo no tom de voz do sujeito, que era um misto de conforto e autoridade, se era simplesmente a necessidade de sentar ou o que mais temia, uma demonstração de atenção que fazia semanas que não sentia, mas resolveu ceder e sentar.
- Não se preocupe, não irei roubar você.
Mais uma risada. Augusto dessa vez também soltou um riso contido, era realmente agradável a companhia de Miguel, mesmo numa situação degradante diante de uma parede insanamente verde em uma boate onde o DJ estava tocando pela terceira vez o mais novo sucesso hiper estourado, pelo que ele lembrava das partes da noite que estava consciente.
Nesse momento resolveu virar seu rosto em direção ao estranho do seu lado, encontrou um par de olhos azuis claros, a única observação que poderia fazer a respeito daqueles olhos é que emanavam felicidade, como se fossem os olhos de uma criança que acabara de ganhar o presente mais esperado no natal. Percebeu que estava demorando demais nessa encarada de olhos, sentiu seu rosto corar e desviou o olhar abruptamente para seus cabelos, que eram castanho claro e sua pele que era de um branco quase pálido.
Pensou consigo mesmo: “Ok, mais um bonitinho da vida.” Mas havia algo estranho nesse Miguel, de olhos azuis alegres que ajudava as pessoas em baladas GLS.
-Hum, nunca vi você aqui, Miguel né? Esse é seu nome não é mesmo?
Fingiu ter esquecido o nome, não queria demonstrar que havia se interessado no rapaz, ainda mais numa situação dessas.
- Miguel de Alcântara, não me viu aqui porque não sou daqui, vim essa semana para cá, cursar a Universidade de Jornalismo.
Respondeu finalizando com um sorriso que transparecia orgulho.
- Mas você está começando agora? Tem quantos anos? Como conseguiu entrar aqui sendo de menor?
Miguel sorriu, e respondeu que essa era sua segunda faculdade, já tinha 21 anos, havia iniciado um curso de Engenharia em Minas, seu estado natal, tinha feito por dois anos porém largou, reuniu tudo que tinha e resolveu arriscar naquela que pensava ser sua paixão, o jornalismo e veio a São Paulo após ter passado em octagésimo primeiro lugar no vestibular para uma das 80 vagas do curso de Jornalismo da USP.
- Um menino desistiu e a vaga abriu, deve ser um desses sinais do destino. Larguei tudo e vim para cá, é meu quinto dia aqui. E você o que faz?
Augusto pensou, nas últimas semanas não havia feito muita coisa, se hoje fosse responder ao pé da letra diria que é um inútil, mas era óbvio que não iria piorar ainda mais a primeira impressão que havia causado.
- Estou no terceiro semestre de Direito, também na USP.
Respondeu e completou que a exemplo de Miguel havia cursado uma faculdade antes, de Química em Santa Catarina, onde havia nascido e saído aos 19 anos quando se deu conta que também havia errado na escolha de sua primeira faculdade. Estava hoje com 22 anos, a caminho de 23 em maio.
Se deu conta que seria dali pouco mais de três meses, o semestre havia começado e nem tinha parado para pensar nisso, seu começo de ano não havia sido dos mais animadores, mas não iria pensar nisso agora, tinha que continuar conversando, estava distraído e surpreso que esse papo estivesse agradável até agora.
- Então é mais um desses taurinos da vida?
Perguntou Miguel seguido de sua risada gostosa.
- Na verdade sou mais do fim do mês, o que me torna um geminiano, entende disso?
- Gosto um pouco do assunto sim, sou de sagitário, fim do mês de novembro, antes que sua curiosidade geminiana te sufoque e você tenha que pedir.
Dessa vez, Augusto riu com vontade, admirou-se do pensamento rápido e eloqüência de Miguel.
- Ah, até quem enfim uma risada, estava começando a achar que era uma má companhia.
- Não, longe disso, eu que não to no melhor momento, se bem que isso você notou antes né?
- Não havia como não notar, respondeu Miguel seguindo de mais uma risada. E rapidamente como seu raciocínio emendou outra pergunta: - E o que houve? Desculpa me intrometer.
Augusto meio pego de surpresa respondeu suspirando: - Longa história.
- Olha, não sei se você notou, mas tenho todo tempo do mundo agora. respondeu Miguel com tom debochado, porém interessado.
Nesse momento surge em frente aos dois, antes tarde do que nunca pensou Augusto, seu amigo Luis, com uma cara aparentando um misto de excitação e preocupação.
- Até que enfim criatura, onde você se meteu? Ta tudo bem?
Augusto respondeu que estava melhor e apresentou Miguel a Luis e vice-versa.
- Augusto, temos que ir, amanha temos aula, e se faltar no primeiro sábado meu pai manda me matar.
- Ok, vai indo pro carro, só vou me despedir aqui.
Luis deu uma risadinha insinuante, Augusto só faltou fuzila-lo com seus olhos negros.
- Desculpa, tenho que ir, novamente obrigado por tudo.
-Tudo bem, respondeu Miguel já se levantando.
Augusto notou que ele era um pouco mais baixo que ele, no maximo 1,80m. Tinha o corpo levemente definido, pelos menos era o que a calça jeans skynni e a camiseta da coca-cola apertada deixavam transparecer. Novamente se viu encarando por tempo demais e sentiu suas bochechas pegarem fogo.
- Você deve ter msn não é? Me passa pra gente poder continuar a sua longa história.
Miguel pediu com aquele misto de autoridade e ternura na voz. Trocaram devidos endereços de Msn e Augusto disse que talvez não entrasse sábado mas outro dia se falariam.
Deram as mãos em um cumprimento rápido, virou –se em direção a saída, tropeçou uma vez mais e ouviu uma vez mais a risadinha abafada de Miguel ao fundo.
No estacionamento da boate viu Luis, com seu cabelo vermelho destacando-se dentro de deu carro branco. Entrou no carro notou um leve arroxeado no pescoço do amigo, resolveu não comentar nada. Estavam no meio do caminho do apartamento que dividiam desde o primeiro dia de aula a um ano e meio atrás quando seu amigo fez a pergunta inevitável.
- Então quem era aquele Deus grego?
- Quem? Ah o menino? Seu nome é Miguel, é novo na cidade. Respondeu fingindo, muito mau por sinal, um falso desinteresse no menino que havia acabado de conhecer.
Luis obviamente notou que Augusto de esforçava por demonstrar menos interesse do que realmente existia, resolveu não comentar, afinal Augusto tinha deixado barato a marca em seu pescoço.
- E se interessou? Vão se ver mais vezes?
Augusto pensou e respondeu de modo evasivo: -Não sei, quem sabe né?
Mas não conseguiu conter uma risadinha brotando em sua boca ao lembrar desse estranho encontro e na perspectiva de poder conversar mais com bonitinho de olhos azuis que havia conhecido escorado numa parede ridiculamente verde.