terça-feira, 13 de abril de 2010

Livro: TROCA Capítulo 2

Capítulo 2

Sábado, 15 horas.

O celular tocava insistentemente, e mesmo Augusto tendo colocado no silencioso a vibração do aparelho o acordou. Olhou a chamada no celular, era sua mãe, depois ligaria pra ela.
Tinha ficado claro para Augusto no meio do caminho da boate até o apartamento que tanto ele quanto Luis não iriam no primeiro sábado de aula. Augusto por se passado na bebida e prever que acordaria com a sensação de estarem martelando sua cabeça, como realmente aconteceu, e Luis porque nunca acordaria no horário se Augusto não tivesse que praticamente derrubar a porta de seu quarto todas as manhãs, isso em dias normais, quem dera após uma balada.
Não que tivesse do que reclamar de seu companheiro de apartamento, era a pessoa mais que perfeita para isso, Luis era o tipo de pessoa que parece estar sempre indo a algum lugar, inquieto, elétrico mas nunca um incômodo e Augusto tinha a sensação que se tudo começasse a desmoronar Luis ainda assim faria uma piada a respeito e agiria como se fosse à coisa mais normal do mundo.
Haviam se conhecido pouco antes do inicio de suas aulas, um ano e meio atrás, Luis já morava em um pensionato em São Paulo quando fazia cursinho pré-vestibular, mas quando passou para a faculdade de Moda na USP conseguiu que seu pai deixasse dividir apartamento com alguém, mais próximo da universidade. A condição era não faltar às aulas, coisa que era religiosamente desrespeitada a cada 4 dias no mínimo.
Augusto sentou-se na sua cama. Sentiu o já famoso gosto de guarda-chuva em sua boca quando notou Luis falando ao celular no quarto ao lado.
- Mas pai, é o primeiro dia, nem é tão importante. Prometo que durante o semestre não falto mais.
Uma leve pausa, onde o pai de Luis deveria estar recriminando as atitudes do filho e lhe passando um sermão, segunda vez essa semana, e era só a primeira semana de aula pensava Augusto.
- Ta bom pai, pode deixar, sim tomarei jeito. Tchau.
Augusto riu consigo mesmo, esperou somente três segundos até que Luis entrasse em seu quarto, com uma cara de quem tivesse acabado de sair de uma massagem relaxante, esquecendo-se do sermão levado segundos atrás.
- Esta acordado então já? A bela adormecida da boate. E riu, alto demais para os ouvidos latejantes de Augusto.
-Então, a Ana já me ligou, hoje vai rolar aquela festa da turma que te falei, você ta convidado e quem sabe pode levar o deus grego ne? Então? Vamos? Vai levar o carinha? Como é mesmo o nome dele? Achei tão fofo, tão lindo, diz que você vai falar com ele, por favor, né?
Augusto levantou a palma da mão em direção ao rosto de Luis.
- Calma pelo amor de Deus, nem acordei direito e você ta nesse interrogatório. E pra sua informação, mal conheço o carinha lá, então acharia esquisito convida-lo assim, além do mais não to querendo isso nesse momento você sabe.
- Ai Gutooo, conhecia já esse velho método de Luis chama-lo pelo apelido, vinha sempre seguido de uma lição de moral. – ta na hora de ir pra frente não acha? O que custa convidar o menino? Você mesmo disse que ele é novo na cidade, não quer deixar ele em casa mofando, coitado. E qualquer coisa se você não se interessar eu achei ele bem bonitinho.
Mais risadas, Augusto fez cara de quem não se importa, e no fundo pensava que nem deveria mesmo, tinha acabado de conhecer a pessoa, porém era inegável que havia balançado um pouquinho as suas estruturas internas.
- Ta, deixa eu tomar um banho e ressuscitar, depois adiciono ele no MSN e ai vejo se ele ta afim, isso se o MSN que ele passou for real, porque né, hoje em dia não duvido de nada.
- Ai Gutooooo, já ia começando Luis, mas Augusto fechou a porta do banheiro bem em tempo de interromper outra das famosas lições de moral de seu amigo sobre o negativismo e etc.
Após o banho, que se revelou um sagrado remédio para sua cabeça latejante, sentou-se em frente ao computador entrando no orkut. Para sua surpresa havia um convite de seu anjo salvador. “me add belo adormecido?”. Augusto soltou uma risada, aceitou o convite e fez aquilo que era o mais natural, vasculhou todas as fotos do rapaz.
Após uns 15 minutos verificando o orkut de Miguel, chegou à conclusão que o mesmo não era do tipo que descreve cada segundo de sua vida em redes sociais, quem visitasse seu perfil não tiraria nenhuma grande conclusão a respeito, somente informações genéricas e fotos aleatórias.
Em seguida entrou no MSN e novamente notou que Miguel já havia se adiantado e o adicionado também. Ficou on-line, sempre entrava invisível para poder ver quem estava antes e bloquear quem por ventura não quisesse conversar. Dois minutos depois a janelinha laranja escrita "Miguel" pisca no canto inferior direito de sua tela, Augusto abre a janela e repara na foto, novamente uma foto comum, porém o azul dos olhos de Miguel era algo realmente hipnótico. Voltou sua atenção para o que estava escrito.
Miguel diz: Oiiiii, tudo bem? Melhorou?
Guto diz: oi, tudo bem sim, to melhor, mas tb não estava tão ruim assim!!
Miguel diz: seiii neh, tenho fotos no meu cel q te provariam o contrário!!
Guto diz: oq?? vc tirou fotos? como assim??
Miguel diz: kkkkk, bobinho, to zoando. Então como foi a aula?
Guto diz: não fui, sem condições

Augusto percebeu que tinha acabado de se contradizer ao afirmar que realmente estava em estado lastimável na última noite, esperava que Miguel não notasse o deslize, mas a astúcia de Miguel não perdoou.
Miguel diz: isso q não tava tãããããõ ruim né? :P ahuhuahuahuahua
Guto diz: Ta, vai tirar com a minha cara sempre agora é?
Miguel diz: calmaaaaaa, não precisa ficar bravinho tb.
Guto diz: não fiquei bravo, ehhehe to zoando tb. :)
Miguel diz: ahhhh, isso aí ehehhe. Então e hj, alguma festa por ai?

Augusto pensou bem, não sabia como seria interpretado se falasse da festa, não estava querendo dar tanto a entender que estava afim do menino, mas resolveu falar sobre a festa de logo mais a noite como se não fosse nada demais.
Guto diz: então vai ter uma festa do pessoal da sala do Luis, meu amigo, lembra dele?
Miguel diz: sim, o ruivinho né? Me pareceu gente fina.
Guto diz: sim, muito é meu amigão, mas não sei se eu vou, não to muito em clima de festas e talz.
Miguel diz: pelos acontecimentos que vc ficou de me falar ontem?

Augusto realmente se surpreendia com a audácia do sujeito que tinha conhecido nem há 24 horas.
Guto diz: não lembro de ter me comprometido a falar isso com vc :P ehehhe, mas um pouco é disso tb.
Seguiram-se uns dois minutos sem qualquer resposta de Miguel, Augusto pensou que talvez tivesse sido ríspido demais na sua resposta. E quando estava pronto mandar outra mensagem a janela pisca novamente.
Miguel diz: desculpa, meu pai ligou, ai já sabe ehhehe. Então eu sei que não se comprometeu a conversar sobre isso seu estressadinho :P mas se quiser tamos ai. Sou curioso mesmo eehhehe
Guto: quem sabe um dia né, não conheço vc direito, vai saber oq faria com tais informações ahuuahuhahua
Miguel diz: ahuauha. Ok.
Guto diz: então, a ana, que esta organizando a festa disse que poderia levar alguém, vc não ta afim de ir? A não ser q tenha algo melhor pra fazer neh?

Augusto sentiu que a tentativa de disfarçar o interesse soava ainda mais como se ele estivesse interessado.
Miguel diz: deixa ver, hj eu teria....hummm. nada pra fazer ehhehe, poderia ir sim se não for incomodo.
Guto diz: não acho q incomodaria, afinal pode levar outras pessoas, só tem q levar bebida, eu vou levar mas hj nem quero chegar perto ehehehhe.
Miguel diz: isso, pq não quero servir de babá mais uma vez :P
Guto diz: aff, não pedi pra ficar lá.
Miguel diz: eu sei, fiquei pq quis, achei vc bonitinho la escorado na parede ahuahuahuhuahuahuahua

Augusto agradeceu aos céus que estivesse sozinho em casa, assim ninguém veria que tinha ficado totalmente embaraçado.
Guto diz: então, nós aqui vamos perto das 22h, chega por esse horário, ai não precisa entrar sozinho.
Miguel diz: uhum, ok me passa o endereço depois, manda por depo hihihi.
Guto diz: ok, passo sim e já passo meu celular tb, qq coisa me manda uma mensagem sei la. Agora tenho q sair, vou lavar roupa, sabe né vida de quem mora sozinho ehhehe
Miguel diz: sim, tb tenho q sair. Até mais, se cuida, bejinho.
Augusto pego de surpresa com esse beijinho inesperado, mas porém não hesita.
Guto diz: bejinho vc tb ehehhe


Alguns minutos depois que saiu do MSN, Luis volta ao apartamento, mais empolgado do que antes.
-Então, vai ser o maior bafo essa festa. O Thiago vai, lembra dele?
- Não, Thiago é o sujeito que fez isso no seu pescoço?
Então Luis parou subitamente, com cara de espanto.
- Ai meu deus, esqueci completamente disso, tenho que disfarçar isso com alguma coisa, senão a casa cai.
Augusto ria sozinho, esse era o bom e velho Luis de sempre.

Sábado, 21:45 Frente da casa da Ana

O telefone de Augusto vibra, uma mensagem de Miguel: “to chegando, não entre sem mim ehhehe”
Augusto volta à realidade e percebe que Ana está esperando uma resposta.
- Então Guto, quem é o menino?
- Ah, então conheci ele ontem, é novo por aqui ai convidei pra vir junto.
- É o salvador do Guto, completa Luis de um jeito debochado soltando sua risada.
Augusto fuzila Luis com os olhos. Ana entra na brincadeira.
- Salvador é? Ai que romântico, quero saber tudo.
- o Luis é um exagerado.
Passam-se alguns minutos de conversas aleatórias, Luis comentando desdenhosamente o modo como as pessoas se vestiam, até que se escuta uma voz.
- Oi.
Era Miguel, com aquela voz que ficava entre a ternura e a autoridade.
Augusto vira automaticamente para trás, e dá de cara com aqueles olhos azuis e rosto sorridente. Não consegue disfarçar um sorrisinho.
- Oi, então achou fácil?
- Sim, não é muito longe de onde eu moro na verdade.
Depois das devidas apresentações de Miguel a Ana a amiga puxa Luis para dentro da casa.
- Então Luis, me ajuda com um negocinho aqui?
Ana vira e faz uma cara de aprovação em direção a Augusto, que naquele momento desejava se atirar da ponte mais próxima.
Lá dentro da casa a música já rolava, os dois entraram e ficaram num canto, próximos um do outro.
-Então, o que fazemos agora? Pergunta Miguel com um tom zombeteiro.
Augusto realmente sentia que a aura do menino ao seu lado era algo que o fazia muito bem. Mesmo assim resolveu sair com uma resposta evasiva.
- Não sei, podemos circular pela festa, te apresento para pessoas por ai e depois a gente vê, provavelmente vou cedo embora mesmo, to um lixo hoje.
Os dois circulam pela casa de Ana, que estava com um clima de festa universitária americana. Precavida como Augusto sabia que Ana era, os móveis e tudo que poderia ser quebrado haviam sido retirados do local, a sala que era grande normalmente estava parecendo ainda maior sem móveis, nela estavam umas 50 pessoas que dançavam, bebiam, beijavam alegremente aproveitando que os pais de Ana estavam viajando.
Varias apresentações de Miguel para amigos e conhecidos de Augusto, e claro, muitas cantadas e indiretas, pois sendo lindo como era e novo na cidade o pessoal não perdoava. Augusto sentiu que isso o causava certo incômodo, mesmo que relutasse em aceitar tal fato. Era cedo demais pensou ele.
- To indo na cozinha, procurar um refri, quer ir junto? Pediu Augusto, torcendo pra que ele aceitasse, queria tirar Miguel do meio dos abutres esfomeados.
- Vamos lá. Respondeu com aquele jeito moleque encantador.
Ao fechar a porta da cozinha, começou a revirar o cômodo em busca de algo não alcoólico, notou que Miguel fuçava pelos cantos.
- Você é curioso mesmo hein? Brincou Augusto.
- Sim, ei, essa escada vai pra onde você sabe?
- Então, conheço essa casa como a palma da mão, venho aqui direto, ela desce a um porão que funciona como despensa, entende?
Miguel fez uma cara de curiosidade.
- É legal lá embaixo?
- É um porão normal oras.
Respondeu Augusto secamente, sendo que três segundos depois passou a entender os reais motivos de uma pergunta dessas. Aproveitou a deixa.
- Quer conhecer? Não tem medo de fantasmas né?
- Deixando a luz acesa não. Respondeu Miguel mostrando um sorriso debochado.
Os dois desceram os 22 degraus e chegaram a um porão mal iluminado, porém espaçoso, sentaram-se no chão, Augusto havia pegado uma garrafa de Sprite e dois copos plásticos e puxou conversa.
- Então, este é o porão. Nada muito maravilhoso não é?
- Na real eu gostei, assim podemos conversar mais sossegos.
- E qual será o tópico da conversa?
Miguel parou, ficou pensando, Augusto se indagava se isso tudo não era proposital, como se ele tivesse caído diretamente numa teia de aranha.
- Vamos falar de relacionamentos!
Augusto sentiu que seria uma noite longa, mas resolveu encarar a situação.
- Ok, nesse caso vou buscar uma vodka.
Subiu e voltou correndo com meio litro de qualquer bebida barata, fez dois cubas entregou um na mão de Miguel que engatou uma pergunta.
- Relacionamentos então, me diga você ta solteiro?

Um comentário:

  1. odeio quando a história para no bom da coisa hehehe.
    Mas ta bem legal.

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